01 julho, 2011

Manchester City finta Fair Play Financeiro?


Discutivel a forma como mega milionários têm chegado ao futebol e provocado autênticas loucuras no mercado de transferências de jogadores, a UEFA acordou para esta realidade e desenhou um modelo onde os clubes europeus terão que respeitar a regra do fair-play financeiro com os resultados a serem apresentados na época 2013/2014. A dívida agregada dos principais clubes europeus totaliza 578 milhões de euros. Cerca de 65 por cento das receitas geradas foram gastas em salários, e 47 por cento dos clubes registaram perdas.

Para cumprirem o requisito da exigência do reequilíbrio financeiro, os clubes não poderão gastar mais do que as receitas que conseguem gerar. Os clubes vão ser avaliados numa base de risco, levando em linha de conta dívidas e salários praticados. Têm ainda que assegurar que cumprem os seus compromissos pontualmente. As medidas publicadas visam ainda estimular investimentos a longo-prazo em áreas como o desenvolvimento jovem e a melhoria de instalações desportivas.

Num sinal de antecipação, o Manchester City contornou esta politíca uefeira com a concretização de um acordo de patrocinio do seu estádio por 110 milhões de euros. O maior valor de sempre na venda dos “naming rights” e que levou o dono do City, o sheik Mansour bin Zayed Nahyan a trocar o "City of Manchester" por estádio Etihad Airlines. De acordo com o último relatório anual, os "citizens" tiveram perdas de 121 milhões de libras (cerca de 135 milhões de euros).

Este negócio vai permitir obviamente aumentar a facturação e garantir ao mesmo tempo a continuação em força do Manchester City no mercado de transferências sem beliscar a regra de fair play imposta pela UEFA. Serão "jogadas" deste tipo que os clubes mais poderosos da Europa vão continuar a fintar as leis de mercado.

O primeiro ponto da discussão é sobre a justiça desta regra fair-play da UEFA. Este sistema, afinal, não servirá para perpetuar os actuais clubes milionários? Será justo que Chelsea e Manchester United (a exemplo) tenham podido gastar o que quisessem para construir grandes equipas no passado que permitiram aumentar a visibilidade e, com isso, aumentar as suas receitas, e que qualquer outro clube que venha a ser comprado não possa? Parece evidente que não.

Por outro lado, poderia a UEFA assistir de sofá à circulação destas fortunas no jogo, muitas vezes sem que se saiba se e quando ele vai sair? Imaginemos que o dono do Málaga ou Paris SG serão bem sucedidos nos seus projectos em levar as equipas à Champions League. E que, quando isso acontecer, abram cordões à bolsa para contratar os melhores jogadores do mundo e tudo corria mal na fase de grupos e os donos milionários abandonavam o projecto. Quem iria depois suportar (pagar) as dívidas?

Para além disso, qual é a justiça de um clube médio, um Sevilha, uma Roma por exemplo, ser bem administrado, conseguir subir degrau a degrau para que, do dia para a noite, chegar um milionário e “comprar” uma presença na Liga dos campeões? Por outro lado, qual é a justiça de Real Madrid, Barcelona, Liverpool e Manchester United possam gastar 10, 20, 50 vezes mais que os outros clubes porque facturam mais do que os restantes?

Também parece evidente que não. A UEFA viu o problema, sabe que para resolvê-lo teria que dividir de maneira mais equilibrada o dinheiro que entra, mas também sabe que não tem poder para bater-se com os grandes emblemas. Estabeleceu, portanto, um sistema, que pouco ou nada resolve e ainda poderá acentuar a diferença entre ricos e pobres.


O que o caso do Manchester City prova, entretanto, não é só que o sistema é injusto. É que é impossível de ser implementado. A UEFA já avisou que vai monitorizar a cedência do "naming" do estádio para verificar se os valores envolvidos fazem sentido. Muito bem: porque não monitorizam o patrocínio do Barcelona (Qatar Foundation), valor milionário, e que será pago por uma fundação que, em tese, não visa lucro? Porque será apenas o Manchester City suspeito de “lavagem de dinheiro”?

Para além disso, suponhamos que a UEFA inviabilizava o negócio do "naming" do estádio do Manchester City. O que impediria o sheik Mansour bin Zayed Nahyan de mandar comprar 5 milhões de camisolas do clube para oferta? Ou ainda, pagar somas estronómicas para realizar particulares com a equipa de reservas do City? Quem é que iria apurar se todas as receitas dos clubes são justas? Vão apurar também as receitas do Barcelona, ou só do Manchester City?

O debate é amplo, e não parece que a UEFA tenha esgotado todos os seus trunfos. O que definitivamente não é justo é que apenas o Manchester City mereça a atenção dos dirigentes europeus.

10 maiores contratos concretizados por clubes de futebol europeus
(valor total em dólares):

10 - AC Milan e Emirates Airlines: $83 milhões por três anos ($27,6mi ao ano)
9 - Real Madrid e Bwin: $88 mihões por três anos ($29,3mi ao ano)
8 - Bayern de Munique e Deutsche Telekon: $115 milhões por três anos ($38,3mi ao ano)
7 - Liverpool e Standard Chartered: $130 milhões por quatro anos ($32,5mi ao ano)
6 - Arsenal e Emirates Airlines: $160 milhões por quinze anos ($10,6mi ao ano)
5 - Chelsea e Adidas: $160 milhões por dez anos ($16mi ao ano)
4 - Barcelona e Nike: $210 milhões por cinco anos ($42mi ao ano)
3 - Barcelona e Qatar Foundation: $235 milhões por cinco anos ($47 ao ano)
2 - Juventus e Tamoil: $265 milhões por dez anos ($26,5mi ao ano)
1 - Manchester United e Nike: $486 milhões por treze anos ($37,3mi ao ano)

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